Ficha Técnica

Batman - Cavaleiro Branco 4 capa
Capa de: Sean Murphy

Batman – Cavaleiro Branco 4
Autores: Sean Murphy (roteiro e arte), Matt Hollingsworth (cores).
Preço: R$ 7,50
Editora: Ed. Panini / DC Comics
Publicação: Setembro/2018
Número de páginas: 28
Formato: Americano (17 x 26 cm.) Colorido / Lombada com grampos
Gênero: Super-heróis
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Sinopse: Após revelar o fundo de devastação do Batman e transformar Gotham num vespeiro, Jack Napier se lança à vida pública capitaneando o desejo de mudança da população de Backport. E quando Napier fala em mudança ele está pensando em uma revolução com o povo, com a polícia e com o Batman, mas será que Gotham está preparada para isso?


Chegamos a Batman – Cavaleiro Branco 4 e todas as dúvidas se estávamos ou não diante de uma história única na trajetória do nosso Cruzado de Capa caíram por terra. O que Sean Murphy vem fazendo é algo poderoso e que a cada edição enriquece ainda mais a mitologia do personagem e de seu universo agregando novas camadas e nuances até então pouco exploradas.

Muito disso se deve a coragem do quadrinista em revitalizar Gotham como um campo político fazendo assim com que o Batman se confronte com questões sociais até então ignoradas por ele, mas que sempre estiveram presentes, mesmo que de forma reptiliana, na cidade. Fato que vimos anteriormente nas edições um, dois e três, mas que alcança seu auge aqui, até então.

E é Jack Napier, o ex-Coringa, quem irá dar voz a essas demandas ao se lançar na carreira política com sua candidatura como vereador de Gotham. Afinal de contas após conquistar e reunir o apoio de milhares de gothamitas o natural era capitalizar em cima disso tudo em sua cruzada pessoal contra o Morcego, certo?

Coringa ou da revolução política

Mas Sean Murphy vai além nessa linha de raciocínio e faz com que Napier entenda algo que o Batman nunca compreendeu: não se salva uma cidade fora da política. Não é atuando à margem do sistema que você vai modificá-lo, mas sim utilizando-o da forma adequada a fim de criar uma sociedade mais justa e igualitária. E muito da atuação de Napier na trama é justamente a de convencer os outros que a saída não é e nunca será a margem da política.

Arte de: Sean Murphy

O vigilantismo de Batman e de seus aliados é ineficaz, pois atua apenas para amenizar os sintomas da doença que assola Gotham. E apesar de ser algo que foi necessário em um período de extrema necessidade na cidade, com o tempo tornou-se uma nova fonte de males. A cruzada contra o crime, empreitada pelo Cavaleiro das Trevas, converteu-se em um ciclo vicioso de corrupção, gerando um estado policial no qual o 1% mais rico de Gotham lucra com as ações do herói. Toda a estrutura socioeconômica da cidade gira em torno do Batman e por isso o discurso de Napier ser tão perigoso ao status quo ali instaurado, pois o que ele quer é neutralizar o motor de todo esse processo de degradação: o Batman.

O esquema descrito acima pode ser visto, com algumas alterações, no filme Batman: Begins, primeiro da trilogia de Christopher Nolan, e foi abordado no texto da pesquisadora Laluña Machado: A sociologia na Gotham City de Christopher Nolan. Texto que indico fortemente e que contribui para alargar vários pontos trabalhados até então por Murphy em Batman – Cavaleiro Branco 4.

Contudo, na revolução proposta por Napier há espaço para todos, incluindo a bat-família e o departamento de polícia de Gotham. Mas principalmente para a população negra de Backport, pois é com eles e para eles que a fala do então candidato a vereador é direcionada. E mesmo aqui, onde o roteiro dança com um perigoso clichê, Murphy se sai muito bem ao nos lembrar que brancos só ouvem a voz de outro branco – uma crítica mordaz à sociedade racista de Gotham, mas que também se aplica para a estrutura que temos aqui fora – e que Duke Thomas e a população negra de Backport sabem disso e que vão usar de todas as ferramentas para mudar a sua situação.

Arte de: Sean Murphy

O plano do Cavaleiro Branco

Mas dentro de toda essa convulsão social, Napier se mantém ao seu plano político: exterminar o vigilantismo através do sistema. Para tanto, ele pretende unificar os justiceiros da cidade e o departamento de polícia através da unidade de Opressão ao Terror de Gotham – o OTG. Um esquadrão de superpolíciais trabalhando lado a lado da Bat-família, utilizando os recursos do fundo de devastação do Batman e para isso ele precisa que Gordon costure uma aliança com Batgirl e com o Asa Noturna. E isso soa como um chamado a razão para o experiente comissário do departamento de polícia de Gotham.

Arte de: Sean Murphy

Deste modo, Napier neutraliza toda uma série de valores que permeiam a figura do Batman, tornando-a em algo antiquado. Ao devolver o poder de cumprimento das leis a polícia, Napier esvazia a posição de destaque do Cavaleiro das Trevas como a única ferramenta possível contra os males da cidade.

Mas nem só de política se vive em Batman – Cavaleiro Branco 4 e há também espaço para vermos Napier e Quinzel finalmente aproveitando os prazeres de um relacionamento saudável, com direito até a um pedido de casamento. Entretanto a ameaça da Neocoringa paira sobre os dois e sobre a cidade de Gotham. E pelo andar da carruagem, a personagem ainda tem muito a oferecer, contudo nesta edição recuamos no tempo para conhecer a sua origem.

Marian Drews – a Neocoringa

Marian Drews. Bancária, depressiva e com tendências suicidas. Abandonada pelo namorado decide se matar no trabalho cortando os pulsos, mas é interrompida por um assalto cometido pelo Coringa ao banco em que trabalhava. Este é o pano de fundo para a personagem criada por Murphy e é interessante notar que, apesar de não ser dito explicitamente, esse encontro aconteça pouco após os eventos que culminaram no afastamento de Quinzel do Príncipe Palhaço do Crime.

Arte de: Sean Murphy

Apesar de serem fisicamente semelhantes, as personagens se ligam ao Coringa de forma essencialmente diferentes. Em sua origem, Quinzel se apaixona e deseja ser útil ao vilão, já Drews se alia por uma compulsão de vida e desde o início possui um entendimento de sua condição enquanto vítima e sofredora da Síndrome de Estocolmo. Para Drews, o Coringa é uma necessidade, algo que preenche e dá sentido a sua vida, por isso a sua luta para retomar o seu antigo relacionamento.

Além disso, a Neocoringa vem cumprindo o seu papel de carta fora do baralho, ao colocar ainda mais lenha na fogueira de Gotham. Suas ações não só são uma ameaça ao Batman, mas também aos próprios planos de Napier para a cidade. Dona do exército dos vilões mais perigosos, sua aliança com o Chapeleiro Louco é altamente inflamável principalmente com o ganho que a HQ termina.

Conclusão

Sean Murphy continua conduzindo de forma primorosa a minissérie e introduz elementos até então ausentes nas histórias do Morcegão ao mesmo tempo em que constrói uma trama envolvente, com boas doses de aventura, personagens cativantes e uma arte de se tirar o chapéu. E este que vós escreve coloca mais algumas fichas na aposta de que estamos diante de um novo clássico.

Nota: 4 de 5

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Autor: Thiago de Oliveira

Há mais de duas décadas lendo e colecionando quadrinhos. Tem mais da metade do que gostaria e menos do dobro do que queria ter. Não dispensa um pão de queijo, um café e uma cerveja.

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