Ficha técnica

Batman - Cavaleiro Branco Apresenta - Arlequina capa
Capa de: Sean Murphy

Batman – Cavaleiro Branco Apresenta: Arlequina
Autores: Katana Collins (roteiro), Matteo Scalera (arte), Dave Stewart (cores) / Sean Murphy (universo e capas), Matt Hollingsworth (cores das capas)
Preço: R$ 62,90
Editora: Panini / DC (Black Label)
Publicação: Outubro / 2021
Número de páginas: 160
Tradução: Mateus Ornellas
Letras: Marcos Valério
Formato: Americano (17X26 cm) Colorido / Lombada quadrada / Capa dura
Gênero: Super-heróis
Sinopse: O Coringa está morto, Bruce Wayne preso e Gotham vive uma nova alvorada sem o Batman. Enquanto isso, Arlequina luta para se acostumar à nova vida junto aos seus gêmeos. Porém nas sombras um novo vilão surge, assassinando antigas estrelas do cinema. E quando um crime indica uma conexão com o Coringa, o agente do FBI Hector Quimby pede ajuda a Arlequina.

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Talvez uma das mais interessantes adições ao universo do Batman sejam as séries do Cavaleiro Branco. Criadas pelo quadrinista Sean Murphy, as duas séries nos mostraram um Batman em crise, um Coringa curado, um antigo mistério da família Wayne e uma Gotham em busca de redenção. E após todo o sucesso, a DC encomendou ao quadrinista uma linha própria: o Murphyverse. Expandindo os seus conceitos, a linha foi anunciada em 2020 e seu primeiro título é Batman: Cavaleiro Branco apresenta – Arlequina.

Publicada pela Panini no formato de luxo, o volume brasileiro contém as seis edições de Batman: White Knight Presents – Harley Quinn (2020-2021) e a edição especial Harley Quinn: Black + White + Red #6. Além disso, conta com as capas originais das publicações estadunidenses.

Apesar das histórias se complementarem dentro do Murphyverse, iremos analisá-las separadamente, pois enquanto a primeira é uma minissérie, a segunda é apenas um one-shot do especial Black + White + Red publicado digitalmente pela DC em 2020. 

Por ser o spin-off primogênito da linha, a leitura prévia das duas séries de Murphy é imprescindível e para a nossa resenha alguns spoilers das obras anteriores são inevitáveis. Por isso, caso você ainda não tenha lido as séries do Cavaleiro Branco siga por conta e risco. Apresentações e avisos dados, vamos em frente.

Batman: Cavaleiro Branco apresenta – Arlequina ou a heroína que Gotham precisa

Dois anos se passaram desde os eventos ocorridos em A Maldição do Cavaleiro Branco. Bruce está preso, o Coringa morto e Gotham está vivendo uma nova era. A cidade está calma e os grandes vilões restantes agora estão sumidos ou escondidos, enquanto a OTG assume de vez o controle da situação e vê os crimes caírem.

Dentro desta nova realidade, Harley Quinn está com dificuldades em se adaptar a sua própria. Agora mãe dos gêmeos, Jackie e Bryce, Arlequina busca conciliar as tarefas de casa, a busca por um emprego e todas as responsabilidades de uma mãe solo. Em meio a isso, um novo assassino, com ligações com o Coringa, surge fazendo com que ela volte a ativa como consultora investigativa.

Arte de: Matteo Scalera

Eis o enredo da minissérie escrita pela estreante Katana Collins. E a autora chega explorando o lado detetivesco das histórias do morcegão com um clássico “quem matou”. Contudo, assim como nos romances policiais noir, a investigação em busca do culpado é uma metáfora para uma análise da psique do investigador. Que é exatamente o que vemos aqui, com direito a flashbacks que aprofundam o seu passado e sua relação com Jack Napier.

Junte isso às interações com os gêmeos no presente e temos um sólido núcleo emocional em torno de Harley. O que por sua vez, faz com que possamos nos relacionar com os acontecimentos de forma muito mais íntima. Certamente um dos grandes acertos da autora, que continua a dar nuances à personagem e a sua trajetória.

Revisitando o passado

Por falar em trajetória, o caminho de torná-la de vez em uma anti-herói e, um dos pilares desta nova Gotham, é bastante natural, visto o que vimos nas duas séries anteriores. Arlequina era uma das forças primordiais das séries, se mostrando altamente ativa, tecendo planos dentro de planos e tomando decisões que culminaram no grande ponto de seu arco redentor: mostrar misericórdia a Jacke, seu grande amor, ao matar o seu maior inimigo, o Coringa.

Ainda neste aspecto, a própria minissérie é um espelho desta caminhada. É quase como se Katana desse dois passos para a frente e um passo para trás, antes de catapultar Harley em direção ao seu futuro. Principalmente quando nos atentamos aos novos personagens introduzidos: o investigador do FBI Dr. Hector Quimby, como ele mesmo gosta de se apresentar, e os vilões Produtor e Estrela.

Reparem nas iniciais do detetive, na dinâmica estabelecida entre a dupla de vilões e como os temas da obsessão e do abuso são trabalhados em suas histórias. Mas especialmente em como flashbacks explicam detalhes até então desconhecidos do passado da Arlequina: as hienas, o apelido “pudinzinho”, a origem do Coringa. Daí ser possível ler a minissérie como uma imensa câmara de eco, onde a principal questão é fazer com que Harley faça as pazes consigo, assim como Bruce fez em A Maldição do Cavaleiro Branco.

Porém, isso é tanto o trunfo como o calcanhar de Aquiles no roteiro de Collins, que todo o enredo gira em torno deste propósito. Inclusive os novos vilões, que só estão ali para criar esse contraponto à história de Harley, o que consequentemente cria dúvidas quanto ao impacto e ao futuro deles neste universo. Particularmente ao se pensar que a HQ apresenta o vilão que se propõe a trazer a era de ouro dos crimes de volta a Gotham.

Easter eggs

Uma das principais marcas da série Cavaleiro Branco são os inúmeros easter eggs espalhados por suas páginas. E também já não é novidade o quanto Sean Murphy gosta da série animada criada por Bruce Timm e Paul Dini – ele tem um podcast junto com Clay McCormack analisando o desenho. Então aqui, a coisa foi um pouco diferente, já que a surpresa ficou por conta da aparição de um velho conhecido de Batman: A Série Animada: o Fantasma Cinzento. 

Apelando para a nostalgia dos fãs mais antigos, a HQ o coloca de volta a ação e o joga no centro da trama como um dos alvos da vilã Estrela. Além disso, essa aparição serve para canonizar a animação dentro do Murphyverse, ao confirmar a ligação do vigilante com o Batman.

Mas para não dizermos que não houve um easter egg, há um bem singelo remetendo a uma das fotos mais icônicas de Hollywood envolvendo a atriz Sophia Loren e Jayne Mansfield. E vou deixar o link para a foto aqui e uma explicação sobre ela aqui. No entanto, eu tenho certeza que ao bater o olho no quadro você vai se lembrar de qual foto estou falando.

A arte de Batman: Cavaleiro Branco apresenta – Arlequina 

Arte de: Matteo Scalera

Se a arte de Sean Murphy e as cores de Matt Hollingsworth eram pontos altos nas séries anteriores, a dupla Matteo Scalera (arte) e Dave Stewart (cores) fazem um trabalho sensacional e não deixam a peteca cair.

Criando um universo colorido e estilizado, os artistas dão ao spin-off um divertido tom pop para a história. Personagens cartunescos se mesclam ao uso de tons pastéis, ocasionalmente quebrados por cores mais vívidas e pontos de luzes, dando a impressão de que estamos em um filme da Pixar. Isso, é claro, se o estúdio sentasse para produzir um filme noir.

O que por sua vez, casa como uma luva tanto para esta nova etapa de Gotham, como para representar a personalidade da Arlequina. Afinal, não estamos em uma história de um sisudo e carrancudo Batman, mas sim de uma Harley altiva, engraçada, mas que está lutando para unir o seu lado sombrio ao seu lado solar.

Harley Quinn: Black + White + Red #6

Fechando o volume brasileiro, temos a edição número seis da série Black + White + Red e bem, é uma história sobre o dia dos namorados. E nela temos uma Arlequina escrevendo uma carta para o encarcerado Bruce Wayne, explorando assim o já latente romance entre os dois. Algo que após os eventos ocorridos nas séries principais e no próprio spin-off é algo já esperado pelos leitores.

Recorrendo mais uma vez aos flashbacks, Collins conta como foi a primeira prisão da Arlequina pelo Batman e como foi este o momento onde Harley percebeu que a relação dos dois poderia ser algo maior. 

O mais interessante nessa relação, e que se confirma ao final da leitura, é como Sean Murphy transmutou a relação que estamos acostumados entre o Cavaleiro das Trevas e a Mulher Gato, em um triângulo amoroso e posteriormente em um chove-não-molha entre Harley e Bruce. Algo que Collins escancara ainda mais em suas duas histórias, a ponto dos demais personagens fazerem troça com a situação.

Todavia, falar mais sobre este pequeno conto é estragar a surpresa, de tal forma que vão e leiam para saber mais.

Conclusão

Batman – Cavaleiro Branco Apresenta: Arlequina é um acerto e mantém a bola quicando para o Murphyverse. Como resultado temos uma minissérie que, ao mesmo tempo em que apresenta esta nova Gotham, muito mais colorida e vibrante, perscruta o passado de Arlequina lançando bases para um novo status da personagem.

Embora não saibamos se algumas das pontas soltas serão aproveitadas futuramente, este pequeno elseworld certamente ainda tem muito a ser explorado. E fica aqui a nossa esperança de que os próximos spin-offs do Asa Noturna e da Batgirl não demorem a sair. 

Nota: 3 de 5

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Autor: Thiago de Oliveira

Há mais de duas décadas lendo e colecionando quadrinhos. Tem mais da metade do que gostaria e menos do dobro do que queria ter. Não dispensa um pão de queijo, um café e uma cerveja.

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