Ficha Técnica

Piteco: Presas capa
Capa de: Eduardo Ferigato

Piteco: Presas
Autores: Eduardo Ferigato (roteiro e arte)
Cores: Marcelo Costa e Mariana Calil
Letrista: Diego Sanches
Preço: R$34,90
Editora: Panini Brasil / Mauricio de Souza Editora – Graphic MSP
Publicação: Dezembro / 2021
Número de páginas: 96
Formato: Americano (19 X 27,5 cm) Colorida / Lombada Quadrada / Capa cartão
Gênero: Aventura
Sinopse: O povo de Lem enfrenta um período de fome e escassez. Seus caçadores avançam sobre território desconhecido: as grandes montanhas brancas. E após o desaparecimento de um grande amigo, Piteco e sua filha Thala se aventuram na imensidão gelada para resgatá-lo. O problema é que ninguém nunca voltou de lá.

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Acredito que posso começar o texto hoje dizendo que o Eduardo Ferigato conseguiu mais uma vez. E é surpreendente como Piteco: Presas consegue te manter na ponta dos pés em alguns momentos, te fazer rir em outros e vibrar com os personagens em outras passagens. Com uma aventura que vai direto ao ponto, mesclando ação, mistério e algumas leves pitadas de suspense, a HQ consegue entregar entretenimento de alto nível em suas oitenta e sete páginas.

“Mas nossa, só isso?”, você deve estar se perguntando. Porém, ela não precisa mais do que isso para aprofundar o universo do nosso querido homem das cavernas e de quebra ainda consolida de vez o flanco “aventura” do selo Graphic MSP. O que nos faz pensar que ainda veremos o Piteco mais algumas vezes por aí. Isso sem dizer que Thala, filha de Piteco e criação de Ferigato, ainda poderia render alguns bons derivados no futuro.

Piteco: Presas – um golpe de vista

Como vocês podem perceber, há uma empolgação percorrendo as linhas desse texto. O motivo para tanto vem daquela sensação boa de se encontrar uma HQ que respeita quem a lê. E o motivo para isso é que, formalmente, o quadrinho é redondinho tanto em sua estrutura quanto em sua premissa. Ao passo que é possível dividi-lo nos velhos conhecidos três atos, a saber:

  • Primeiro Ato – Configuração: onde somos introduzidos à história, seu universo e ao dilema motriz; 
  • Segundo Ato – Confronto: início da jornada onde nossos protagonistas encontram novos obstáculos e perigos; 
  • Terceiro Ato – Resolução: Pré-clímax, Clímax, Desfecho

Chamo a atenção para este dado, pois aqui, mais do que em Piteco: Fogo, fica evidente como o roteiro se apropria destes princípios, para nos levar em uma aventura por terras além. Contudo, não digo isso como demérito ou coisa parecida. É necessário saber trabalhar com os clichês deste arcabouço para se criar um enredo empolgante e Ferigato o faz com maestria.

Arte de: Eduardo Ferigato

Outro ponto interessante do uso deste arcabouço é que a HQ, apesar de ser uma continuação, pode ser lida de forma independente. O que por sua vez dá a Piteco: Presas uma aura de quadrinho noventista: aquela de pegar um quadrinho avulso na banca e se divertir, sem se importar com cronologias e números anteriores. Uma leitura feita num golpe de vista, mas que agrada a cada página lida.

Ainda assim, para aqueles que já estão acompanhando as aventuras do personagem, é perceptível a passagem de tempo entre a história atual e sua antecessora. Enquanto no primeiro volume vemos uma Thala mais intempestiva e ainda aprendendo a lidar com o arco, agora ela é uma caçadora habilidosa e que forma com seu pai uma dupla imbatível.

Uma questão geracional

Essa dinâmica entre os dois proporciona momentos hilários, tais como a abertura da HQ, e serve tanto como alívio cômico quanto para tratar da questão geracional. Afinal de contas, a trama é também sobre isso. 

Trabalhando com os diferentes significados da palavra presa, o quadrinista brasileiro produz uma mensagem de respeito àqueles que vieram antes de nós sejam eles pais, avós, tios ou outras pessoas que contribuíram com o nosso desenvolvimento e história. Com efeito, a força motriz aqui é a busca pelo amigo e tutor de Piteco: Groto. E não a questão da fome que assola o povo de Lem.

Arte de: Eduardo Ferigato

Por sua vez, a própria jornada realizada por Piteco e Thala, no agreste congelado, é também um reforço deste pensamento. São vários os momentos em que Piteco conversa e explica a sua filha, aquilo que ele acredita como o certo e o melhor do povo de Lem: o respeito aos mais velhos e a união de seus habitantes. 

Acredito que escrevendo assim pode parecer que o roteiro soe piegas em alguns momentos, mas não se deixem enganar. O texto de Ferigato é preciso e passa longe de ficar meloso ou panfletário. Além disso, os diálogos são bastante naturais e para quem convive com adolescentes é um deleite a parte.

A arte de Piteco: Presas

Ferigato mantém o bom trabalho do volume anterior e isso significa boas cenas de pancadaria e belas páginas duplas. No entanto, aqui também temos o uso, de forma bastante criativa e inteligente, dos requadros para dar ênfase nos movimentos dos personagens ou o impacto dos golpes.

Além disso, chamo a atenção para as cores de Marcelo Costa e Mariana Calil. O que a dupla faz é de uma qualidade ímpar ajudando a transmitir as sensações de perigo (vermelho) e de mistério (azul). E não consegui parar de pensar se haveria alguma influência da série animada Primal de Genndy Tartakovsky’s. Principalmente nos tons vermelhos de algumas das sequências mais tensas da HQ. 

Conclusão

Piteco: Presas veio, como disse anteriormente, para coroar a ala de aventuras do selo Graphic MSP. E mesmo que esses dois primeiros volumes não possuam ganchos em suas histórias, é inegável que o material possui fôlego para continuações. E seria bastante interessante acompanharmos, talvez, algo como Rei Conan transmutado para as páginas de Piteco. Afinal de contas se alguns anos se passaram entre as histórias, porque não se aprofundar nesse sentido e levar o personagem a novas etapas em sua vida. 

Apesar do nosso desejo, ficamos no aguardo dos próximos passos de Ferigato dentro do universo de Lem, com o conhecimento de que o homem das cavernas está em boas mãos. 

Nota: 4 de 5

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Autor: Thiago de Oliveira

Há mais de duas décadas lendo e colecionando quadrinhos. Tem mais da metade do que gostaria e menos do dobro do que queria ter. Não dispensa um pão de queijo, um café e uma cerveja.

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