Ficha Técnica

Superman & Batman
Capa de: Steve Rude

Superman & Batman: os melhores do mundo
Autores: Dave Gibbons (roteiro), Steve Rude (desenho), Karl Kesel (arte-finalista)
Preço: R$ 32,90
Editora: Ed. Panini / DC Comics
Publicação: Outubro/2017
Número de páginas: 180
Formato: Álbum (18,5 x 27,5 cm.) Colorido / Capa dura
Gênero: Super-heróis
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Sinopse: Batman e Superman juntos pela primeira vez em uma aventura eletrizante! Seus dois arqui-inimigos, o genial Lex Luthor e o insano Coringa, fizeram um nefasto pacto: cada um deles atacará a cidade do outro. Estarão nossos heróis preparados para este desafio? Conseguiram o Cavaleiro das trevas e o Homem de aço colocarem as suas diferenças de lado e impedir os assustadores planos armados contra eles?

Ler Superman & Batman: os melhores do mundo é se ver transportado para uma outra época. Uma era onde roteiristas não estava preocupados com grandes arcos ou presos em intrincadas continuidades. Onde o Morcegão e o Homem de Aço se viam às voltas com histórias mais simplórias, mas não menos interessantes. Mas engana-se quem possa acreditar que o trabalho de Dave Gibbons (Watchmen, The Originals), Steve Rude (Nexus) e Karl Kesel (Superboy) compartilhe dessas características.

A World’s Finest Comics

Emulando os traços e o tom da era de prata dos quadrinhos estadunidenses, a HQ que temos em mãos presta uma homenagem não só a uma das mais significativas amizades da nona arte, como também ao título onde tudo começou – a World’s Finest Comics. Um resgate da simplicidade da era de prata para contar uma poderosa história sobre criar pontes ao invés de muros.

Para quem não conhece, a World’s Finest Comics foi um dos principais títulos da era de prata e a responsável por reunir pela primeira vez os dois grandes medalhões da DC Comics em uma única aventura. Este encontro ocorreu em 1954 na World’s Finest Comics #71 e é ele o responsável por estabelecer os pilares de que Superman e o Batman são melhores amigos que confiavam plenamente um no outro.

Arte de: Steve Rude

Batman & Superman: Da amizade a rivalidade e da rivalidade a amizade

Esse status será mantido nas próximas três décadas até a chegada de Crise nas Infinitas Terras que estabelecerá toda uma nova continuidade para as publicações da editora e que transformará os superamigos em dois estranhos que se medem a cada encontro.

Aproveitando este novo status quo, devidamente consolidado através das visões de Frank Miller com seu Batman: Cavaleiro das Trevas e de John Byrne, em O Homem de aço, Gibbons tem como objetivo revitalizar e apresentar para um novo público, o conceito estabelecido em World’s Finest Comics: o de que Superman e Batman podem ser amigos e parceiros. E para isso, o quadrinista britânico irá recontar esse primeiro encontro e demonstrar que mesmo diferentes, os dois possuem mais fatores que os aproximam do que os afastam.

Prato Principal

Arte de: Steve Rude

Publicada em 1990 como uma minissérie dividida em três edições Superman & Batman: os melhores do mundo possui um mote aparentemente ingênuo. Lex Luthor e o Coringa realizam um pacto de não-agressão ao trocarem de cidades colocando assim em cheque os nossos heróis. Superman se vê tendo que lidar com os intrincados e nada previsíveis planos do nosso palhaço do crime e Batman, por sua vez, com um astuto adversário com o poder de alguns bilhões de dólares no bolso e sem escrúpulo algum. A solução lógica para esse dilema: tornarem-se aliados. E é com esse pano de fundo, que Gibbons compõe uma das mais bonitas homenagens a relação entre o Cruzado Encapuzado e o Último de Krypton.

O que torna esta HQ tão especial e faz com que ela entre no hall de melhores histórias dos personagens, pelo menos para esse que vós escreve, é a preocupação de Gibbons em tornar essa amizade algo crível. Seu roteiro pontua não somente o que os torna diferentes, mas o que os assemelha e o faz em um processo aristotélico. No qual Superman e o Batman passam não só a se respeitarem como a desejarem o bem um para o outro.

Batman & Superman: sombra e luz

E para se afastar das noções de rivalidade (Miller) e de desconfiança (Byrne), GIbbons irá escrutinar os principais pontos de convergência e de disparidade existentes nas mitologias do Batman e do Superman. Suas origens, suas cidades, seus arqui-inimigos, suas motivações, seus principais aliados, está tudo lá. Espelhado ponto a ponto em uma progressão onde as diferenças e as similaridades dos heróis vão sendo postas lado a lado de modo a percebermos que ambos são na verdade opostos complementares.

E não são poucos os momentos onde elementos dentro das mitologias do Superman e do Batman são equiparados. Um destes momentos é à sequência inicial da HQ onde somos apresentados aos personagens.

Gotham ao pôr do sol, repleta de mausoléus, suja, labiríntica e opressora. No topo de um prédio, ao lado de sombrios gárgulas, a figura do Batman observa dois criminosos que acabam de executar um terceiro. Metrópolis, por sua vez, aparece em todo o seu resplendor numa manhã de sol. Harmoniosos arranha-céus apontam pela cidade de ruas limpas e planejadas. Cortando os céus a figura luminosa do Superman patrulha as suas alamedas. E que forma mais bonita e profunda de demonstrar os contrastes que marcam o Homem de Aço e o Cavaleiro Encapuzado.

Dois órfãos

Em uma belíssima sequência vertical, que condensa a origem dos heróis, Gibbons nos recorda de outro fato que os iguala: ambos são órfãos de pais biológicos. Marcados por esse acontecimento, ambos crescem sobre a marca da tragédia e crescem como homens inquietos e incompletos.

Em relação ao Batman, este aspecto da inquietude e da ausência dos pais é mais conhecido e ganhará novos ares, apesar de que com o mesmo intuito do de Gibbons, através do olhar do diretor Zack Snyder naquela fatídica cena de “Batman vs Superman: a origem da justiça” e da qual sou um dos defensores (e se quiser saber os motivos clique aqui). Agora se alguém tem alguma dúvida quanto ao Superman, recomendo a leitura da HQ Super-homem: o homem que tinha tudo. Um outro clássico da dupla Gibbons e Alan Moore.

A arte de Steve Rude

Digressões à parte, e antes de concluirmos essa resenha, gostaria de chamar atenção para mais alguns pontos. O trabalho do desenhista Steve Rude é um show à parte e muito do clima nostálgico da HQ se deve ao seu traço. O artista opta por referenciar antigos artistas ou recriar poses e modelos da era de prata dos quadrinhos.

O Superman homenageia o desenho dos irmãos Fleischer dos anos 40 e traz todo aquele aspecto solar do personagem que tanto marcou época e corações. O Batman, por sua vez, é uma releitura de sua primeira aparição lá em 1939 na Detective Comics #27. Seu Coringa remete ao do ilustre quadrinista Carmine Infantino, um dos principais artistas da era de prata dos quadrinhos. Além disso, todos os outros personagens parecem saídos diretamente de alguma HQ da década de 50-60 do século passado.

Falando em Batman, para quem for ler ou para quem já leu Superman & Batman: os melhores do mundo, deixo aqui uma dúvida: aquele sequência inicial do Batman é ou não é um tributo a primeira aparição do Morcego?

Finalizando, a edição da Panini está muito bem trabalhada e conta com extras que enriquecem ainda mais a leitura e ajudam a expandir o entendimento do leitor quanto às intenções e objetivos da equipe criativa da HQ. Sem contar na belíssima introdução do próprio David Gibbons que é uma verdadeira carta de amor aos quadrinhos.

Nota: 4 de 5

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Autor: Thiago de Oliveira

Há mais de duas décadas lendo e colecionando quadrinhos. Tem mais da metade do que gostaria e menos do dobro do que queria ter. Não dispensa um pão de queijo, um café e uma cerveja.

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