Ficha técnica

Harvi: histórias pessoais - em quadrinhos capa
Capa de: Aline Zouvi

Harvi: histórias pessoais – em quadrinhos
Editores: Marcos KZ e Aline Zouvi
Autores: Amanda Miranda – André Ota – Bruno Guma – Cecilia Marins – Edson Bortolotte – Gustavo Nascimento – Helô D’Angelo – João B. Godoi – Lalo – Luli Penna – Lume – Mayara Lista – Paula Cruz – Rogi Silva – Vitorelo
Preço: R$45,00
Editora: Harvi
Publicação: 2022
Número de páginas: 168
Formato:  (17,6 x 25 cm), Preto e branco/Lombada quadrada/Capa cartão
Gênero: Antologia
Sinopse: Quinze quadrinistas e uma antologia sobre o tema: histórias pessoais. Histórias autobiográficas e outras nem tanto.

***

Antologias são como um kinder ovo: nunca se dá para saber o que há dentro. Há aquelas que são como montanhas-russas de emoção, há aquelas que patinam e são poucas as que conseguem manter uma regularidade. Pois bem, Harvi: histórias pessoais – em quadrinhos faz parte deste último grupo e se mostrou como uma grata surpresa do FIQ de 2022.

Coeditada por Marcos KZ (Liget) e Aline Zouvi (Pão francês), a antologia conta com a participação de quinze quadrinistas brasileiros que juntos, posso dizer, compõem um retrato da produção atual da nona arte no país. Mesmo que este retrato seja uma pequena polaroid, devido às proporções da obra.

Dentro do grupo selecionado pelos editores, nomes já premiados ou indicados a prêmio e que certamente você já esbarrou nas redes sociais e outras publicações. E se não, a coletânea é uma boa porta de entrada aos profissionais. Nem que seja para deixar aquele gostinho de quero mais, que foi o que aconteceu comigo. O único problema é a lista de compras que ganhou alguns itens novos ao final da leitura.

Harvi, Pekar e o gênero autobiográfico

Para quem ainda não pegou, Harvi: histórias pessoais – em quadrinhos é uma bela homenagem a Harvey Pekar. Quadrinista norte-americano, Pekar ficou famoso pela série American Splendor (1976-2008), onde tinha como temas   onde buscava tratar de temas do seu cotidiano tais como dramas, questões de trabalho e até mesmo conversas particulares de amigos e familiares.

Além de ser um dos baluartes do gênero autobiográfico, Pekar tem uma peculiaridade que o distingue dos demais: ele utilizava diferentes desenhistas para retratar as suas histórias. Não à toa que, talvez, a figura que esteja vindo a sua mente quando falo do quadrinista, seja no traço de Robert Crumb.

Este aspecto, de ser retratado por terceiros em uma HQ autobiográfica, cria um dilema muito interessante. Afinal de contas, ao lermos um quadrinho do gênero, nos vemos assinando um acordo no qual confiamos que o relato apresentado se deu como tal. Tanto na narrativa, quanto em sua representação gráfica. Porém, tudo ali descrito é real? E o que fazer com um autor tão multifacetado? Daí o potencial dos quadrinhos autobiográficos para revigorar o debate sobre autenticidade e veracidade, como nos diz Fabiana Bastos.

Analogamente, podemos pensar que a escolha por este patrono, não se deu de forma gratuita. Já que, dentro de sua premissa de contar histórias pessoais, existe toda uma diversidade de narrativas.

Para se dar um exemplo da amplitude deste espectro temos de um lado a história Luz de Amanda Miranda, que conta a sua terrível experiência com enxaquecas. Já no outro pólo, temos Sem título de João B. Godoi, que narra uma tarde do ex-jogador de futebol Sócrates interrompida em suas férias por um intrépido e inconveniente jornalista.

Harvi – Colocando um pouco de si no papel 

Arte de: vários autores

Contudo, o que se destaca dentro da antologia e das vozes dos quadrinistas é a urgência do colocar-se no papel. De dar vazão nos quadrinhos a sentimentos, pensamentos, causos e medos. E tudo isso de uma forma bastante íntima com quem lê a HQ. 

Não há como não se sentir tocado com a tristeza e a saudade da perda de um ente querido, como visto em Luto de Helô D’Angelo ou em Passarinho de Cecilia Marins. Como também não sentir toda a revolta e o temor de ser uma pessoa LGBTQIAPN+ vivendo em sociedade preconceituosa como a nossa, como em Endoscopia de Vitorelo ou Lírio de Gustavo Nascimento. Aliás, sobra espaço até para repensar o seu processo criativo com Pixin! Pixin! Pow! Pow! de com André Ota ou dar boas gargalhadas com Posso falar? de Lalo.

E em como uma exposição, como nos mostra a capa, somos convidados a entrar em cada um desses universos particulares, conhecê-los e ter acesso a histórias pessoais íntimas ou não, mas sempre enriquecedoras. 

Conclusão

Como toda antologia, algumas histórias vão falar diretamente a esta ou aquela pessoa que estiver lendo, o que torna dizer quais são as melhores uma ingrata missão. Entretanto, chamo atenção para o ponto que Harvi: histórias pessoais – em quadrinhos não possui uma história que puxe a antologia para baixo. O que demonstra o nível de qualidade dos quadrinistas presentes e do trabalho dos editores. 

Com efeito, fica aqui a dica para você dar uma chance à HQ e a ter acesso a este fino recorte da cena de quadrinhos brasileira. E que venham outros volumes desta antologia que tem tudo para se firmar no mercado nacional.

Nota: 4

Compartilhe

Autor: Thiago de Oliveira

Há mais de duas décadas lendo e colecionando quadrinhos. Tem mais da metade do que gostaria e menos do dobro do que queria ter. Não dispensa um pão de queijo, um café e uma cerveja.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *