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Críticas de segunda e Opiniões de quinta sobre Quadrinhos

Por Thiago de Oliveira

Flinch Horror e Desespero livro 1 - De Segunda

Flinch: horror e desespero livro 1

Hoje no De Segunda: Flinch traz um espetáculo de terror. Venha Conferir. Estamos abertos 24h.

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Ficha Técnica

Flinch Horror e Desespero livro 1 - De Segunda
Capa de: Phil Hale

Flinch: horror e desespero livro 1
Autores: 
Brian Azzarello, Jim Lee, Garth Ennis, Frank Quitely, Richard Corben, Bill Sienkiewicz, entre outros.
Preço: R$28,90
Editora: Vertigo / Ed. Panini
Publicação: Julho/2018
Número de páginas: 196.
Formato: Americano (17 x 26 cm), Colorido/Lombada Quadrada. Capa cartonada.
Gênero: Terror
Link Amazon: Compre aqui

Sinopse:
Primeiro volume da antologia de terror do selo Vertigo da DC Comics que traz nomes como Brian Azzarello, Jim Lee, Garth Ennis, Bill Willingham, Bill Sienkiewicz e muitos outros.

Entrada

Originalmente publicada no final dos anos 90, Flinch: horror e desespero livro 1 é uma antologia do selo Vertigo da DC Comics, que chega ao Brasil pela editora Panini. Este primeiro volume, reúne 24 histórias de terror, vindas diretamente da mente de vários figurões dos quadrinhos como Brian Azzarello, Garth Ennis, Jim Lee, Eduardo Risso, Bill Willingham, Frank Quitely, Richard Corben, Bill Sienkiewicz, entre outros.

Desembarcando pela segunda vez em terras brasileiras, alguma de suas histórias foram publicadas pela editora Opera Graphica na finada revista Vertigo lá no começo dos anos 2000, Flinch: horror e desespero livro 1 traz as oito primeiras edições, de um total de dezesseis, reunidas no já conhecido padrão Panini: capa cartonada, lombada quadrada, papel LWC, 17x26cm.

Há quem goste do formato adotado pela Panini e há quem não goste, mas acredito que desta vez a editora não tenha errado a mão e que o formato atende bem à esta publicação, já que por reunir histórias não tão conhecidas pelo público brasileiro, o principal intuito da revista acaba sendo o de porta de entrada para os temas do selo Vertigo.

Prato principal

Lendo Flinch: horror e desespero, não foram poucas às vezes que me peguei pensando numa das máximas do escritor argentino Julio Cortázar: “O romance vence por pontos, enquanto o conto deve vencer por nocaute”. Para Cortázar, o conto deve ser algo sintético, trabalhando de forma a selecionar os elementos que melhor proporcionam o efeito desejado no leitor, em outras palavras, o conto deve ser envolvente, do começo ao fim, e terminar de formas que nos deixe sem fôlego. Rápido e rasteiro, como diria a minha avó.

E no universo das histórias em quadrinhos são as tramas de seis a dez páginas que se valem de contos.

Tendo isto em mente e analisando as 24 histórias que compõem a antologia, nos deparamos com verdadeiros ganchos no queixo, para nos mantermos dentro da analogia do boxe. Claro que nem todas as histórias possuem o mesmo nível de qualidade e que vez ou outros nos deparamos com rounds de lutas frias e sem grandes atuações, mas Flinch: horror e desespero cumpre bem a sua proposta.

Então vamos para aquelas histórias que chamaram à atenção da casa.

Destaques

Garota lupina devora

Com roteiro de Bruce Jones e arte de Richard Corben, observamos um grupo de missionários, em sua missão de evangelizar, que chegam a uma pequena cidade no interior do Canadá, onde aprendem que a danação está nos detalhes.

Objeto encontrado

Flinch - Objeto Encontrado - De Segunda
Arte de: Pat McEown

Não há muito a dizer, com receios de estragar a boa surpresa, sobre a história contada por Bob Fingerman e Pat McEown. Shawn encontra estranhas fotos no trajeto de volta para casa após o trabalho e o desfecho é de cair o queixo.

Cadeia alimentar

Flinch - Cadeia Alimentar - De Segunda
Arte de: Eduardo Risso

Mais uma dobradinha da dupla Brian Azzarelo e Eduardo Risso em uma história tensa do começo ao fim. Quando a verdade é posta na mesa, dois policiais entram em choque e o final não pode ser mais indigesto. Para quem já leu 100 Balas (e gostou), o conto é um prato cheio. Para quem não ainda não leu 100 balas, uma boa porta de entrada ao universo do quadrinista norte-americano.

Terrores noturnos

O terror de ir para a cama aos olhos de uma criança. Dormir nunca foi uma tarefa tão perigosa quanto aqui. John Rozum e Kelley Jones conseguem trabalhar com um tema comum ao terror, sem serem piegas e para aqueles que convivem com crianças – vocês não verão mais o “estou sem sono” do mesmo jeito.

Um passeio no parque

O enredo escrito por Scott Cunningham seria um avô espiritual de “Corra!”? Não sei, mas é praticamente impossível não pensar, ao final da leitura, no filme do diretor estadunidense Jordan Peele. Uma trama com uma reviravolta de tirar o fôlego graças ao soco no estômago que ela é.

Flinch - Um passeio - De Segunda
Arte de: Marcelo Frusin

Satanic

Garth Ennis é sinônimo de histórias violentas, perturbadoras, recheadas de um humor peculiar e altas doses de crítica sociais. E encontramos tudo isso aqui nesta paródia do filme Titanic.

Fingindo de morto

Western e horror numa mesma história? Sim senhor. Em um enredo marcado pelo não-dito, o veterano quadrinista Bruce Jones, narra um suspense onde acompanhamos os eventos que cercam o soldado Harv Emery após o ataque de uma tribo.

Flinch - Fingindo de morto - De Segunda
Arte de: Paul Gulacy

Fumaças

O CEO de uma companhia química acaba, depois de uma discussão com um grupo de ambientalistas, sofrendo com os efeitos de um nariz mais sensível a sua própria podridão. Historieta que acaba envolvendo o leitor por conta da arte de Marc Hempel, que trabalhou com Neil Gaiman no arco Sandman: Entes queridos, que retrata muito bem a evolução do personagem rumo ao seu desfecho trágico.

Mulher morta marchando

Em uma sessão de terapia, acompanhamos uma mulher que relata seus problemas conjugais. O problema aqui é que ela já está morta.
História de William Messner-Loebs, um dos criadores de The Maxx, e com arte de Duncan Fegredo, capista de Lúcifer.

A esposa diurna

Trama de Phil Hester, experiente quadrinista estadunidense, onde um marido descobre, em uma noite de insônia, uma curiosa cicatriz na nuca de sua esposa. Este fato leva seu casamento para outro patamar. O interessante da história é o tom de “Além da imaginação”, onde somos instigados a correr pelas páginas na esperança de encontrarmos respostas à situação que se desenrola entre este misterioso casal.

Parada

Com roteiro de Devin Grayson (Asa Noturna) e arte de Phil Jimenez (Os Invisíveis). Acompanhamos um pai que tenta impedir, desesperadamente, que seu filho participe de uma parada gay. No meio da multidão, reencontros nos mostram que há outros motivos pelos quais a parada se mostra tão “perigosa” ao pai.

O vilarejo

É interessante ver como determinados temas permeiam a obra de um autor ao longo da sua carreira e aqui observamos como Bill Willingham, criador de Fábulas, já trabalhava com o tema de seres fantásticos habitando o nosso mundo real. História curta e que nos dá um maior panorama quanto aos gostos do autor.

Guts

Thriller de Greg Rucka (Gotham Central), sobre a caça do FBI a um terrorista numa cidadezinha do interior. Outro exemplo de como um conto pode ser surpreendente e que o diabo está nos detalhes.

You’ve got hate mail

Após o divórcio, Jerry se aventura em salas de bate-papo e inicia um relacionamento pela internet. Mais um gancho de esquerda dentro da antologia. Robert Rodi nos traz uma história tensa, acelerada e com um final bem inesperado, daqueles que te fazem arregalar os olhos.

Os sapatos de lótus

Um conto de dor e sofrimento, onde o terror advém do antigo costume chinês conhecido como pés de lótus. Aqui uma mãe relata a sua filha como as fadas transformaram seus pés. Flinch: horror e desespero, mostrando que uma história de terror pode vir de onde menos se espera. Roteiro de John Kuramoto e arte de Jon J. Muth (Frequência Global, Monstro do Pântano).

Fecha a conta

A nona arte possui uma rica tradição dentro do gênero do terror. Publicações como a Creepy e Eerie, da antiga editora estadunidense Warren Publishing, marcaram época e ajudaram a revitalizar grandes monstros da literatura.  E com a colaboração de quadrinistas, como Archie Goodwin, Frank Frazetta, Neal Adams, tornaram o gênero carro chefe dos quadrinhos.

Flinch: horror e desespero é mais uma página nesta antiga tradição. Não posso dizer que é uma das melhores, mas cumpre seu papel. Entregando algumas boas histórias de terror, mesmo que a qualidade entre elas varie.

Minha avaliação final é a de que a antologia não é algo acima da média. Mesmo tendo um time de peso, a irregularidade das histórias prejudica a qualidade. Some isso ao preço de capa,  e o que temos não é um algo que atraia um leitor casual.

Vi algumas críticas quanto a quantidade de páginas de algumas histórias, mas não consigo ver nisso um ponto negativo. Como uma antologia, as histórias tendem a serem mais curtas e fechadas.

Flinch: horror e desespero livro 1,  já teve sua continuação publicada pela Panini, então logo mais ela irá dar as caras por aqui.

Nota:
3 de 5 

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