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Críticas de segunda e Opiniões de quinta sobre Quadrinhos

Por Thiago de Oliveira

Gideon Falls vol 1: o celeiro negro review

Gideon Falls vol 1: O celeiro negro

Gideon Falls vol 1: O celeiro negro é o primeiro quadrinho de terror de Jeff Lemire e o roteirista começa com o pé direito.

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Ficha Técnica

Gideon Falls vol 1: o celeiro negro capa
Capa de: Andrea Sorrentino

Gideon Falls vol 1: O celeiro negro
Autores: Jeff Lemire (roteiro), Andrea Sorrentino (arte), Dave Stewart (cores)
Tradução: Dandara Palankof
Preço: R$ 89,90
Editora: Image / Mino
Publicação: Outubro / 2018
Número de páginas: 160
Formato: 17 x 26 cm, Capa dura, colorido
Gênero: Terror
Sinopse: Existe uma lenda sobre um antigo celeiro negro que aparece e reaparece de tempos em tempos, trazendo morte e loucura. Desta vez, as vidas de dois homens bem diferentes irão se entrelaçar a este mistério.

***

Jeff Lemire já se tornou um nome conhecido no blog e é certamente um dos grandes nomes dos quadrinhos, tendo trabalhado na Marvel, na DC Comics, no selo Vertigo, na Valiant, Dark Horse, entre outras editoras. Além disso, o autor é extremamente prolífico e é possível encontrar obras de todos ou quase todos os gêneros em sua bibliografia. E com Gideon Falls vol 1: O celeiro negro, Lemire finalmente adentra na seara do terror.

Publicada originalmente, em vinte e sete edições, pela Image Comics entre 2018 e 2020, a série angariou alguns prêmios e esteve presente em listas de melhores do ano. Dentre os prêmios, ela ganhou os Eisner de melhor nova série (2019) e melhor colorista (2020) e Lemire ainda foi indicado a melhor roteirista (2019).

No Brasil, a série chegou pelas mãos da editora Mino e foi dividida em seis volumes de capa dura que trouxeram como extras as capas variantes. Este primeiro volume reúne as seis primeiras edições originais e teve publicação simultânea à publicação dos EUA. Mas do que se trata Gideon Falls?

Gideon Falls vol. 1 – A história de dois universos

Este primeiro volume é centrado em torno de dois personagens: Norton, um jovem recluso e obcecado em encontrar pistas no lixo da cidade, e o padre Fred, remanejado para a cidade de Gideon Falls para substituir o padre recém-falecido. E assim como em o Soldador Subaquático, o mistério e o surreal vão sendo plantados paulatinamente e vão costurando a vida destes homens num tormentoso redemoinho em direção ao Celeiro Negro. 

Contando simultaneamente a história de ambos, Lemire trabalha com a justaposição de opostos. Fred, um homem na casa dos 60 anos, se mostra como alguém vivido e endurecido por um passado bastante intenso, já Norton por sua vez tem vinte e poucos anos e teme tudo ao seu redor. O primeiro se encontra numa bucólica e suspeita comunidade rural, o segundo percorre as ruas áridas e sujas de uma grande metrópole.

Porém toda essa dicotomia funciona de forma a criar ecos narrativos onde mesmo que estejamos vendo situações completamente diferentes, as sensações se completassem. Gerando assim pontos de tensão, ganchos e viradas de páginas excepcionais, demonstrando toda a competência do roteirista canadense em produzir a atmosfera certa para uma HQ de terror. 

Arte de: Andrea Sorrentino

O purgatório de Norton 

Vasculhando o lixo da cidade, Norton recolhe estranhos objetos como fragmentos de uma madeira preta, pregos, cacos de vidro, dobradiças e unhas. Impelido por uma estranha força e a lembrança de um celeiro negro, o personagem está preso em uma espiral de ansiedade, medo e angústia vivendo entre sua obsessão e as consultas com a sua psiquiatra Dra. Xu.

Toda essa atmosfera vai ganhando contornos cada vez mais intensos na medida em que a história avança, tornando essa força metafísica cada vez mais palpável e fazendo com que, paciente e médica mergulhem cada vez mais fundo para desvendarem os segredos acerca do celeiro e do estranho homem sorridente que ali reside. 

Tanto o ritmo, como a caracterização deste lado da trama é claustrofóbico e a arte de Andrea Sorrentino abusa do experimentalismo para traduzir o tom que permeia a trajetória de Norton. Utilizando de ângulos distorcidos, como se estivéssemos vendo o mundo através de lentes olho de peixe, closes e layouts incomuns com sobreposições, cenas de cabeça para baixo e intrincadas páginas duplas. 

A página com a exposição dupla do número quatro formando uma fita de Möbius é impressionante e é um dos inúmeros exemplos de como Sorrentino está em outro patamar em Gideon Falls vol 1: O celeiro negro. Inclusive, a paleta de cores escolhida por Dave Stewart é deslumbrante, ajudando a criar toda a tensão necessária.

Chamo atenção para o uso do vermelho na história. Stewart habilmente constrói a sensação de perigo e violência sempre que o celeiro negro ou seus elementos surgem ou são citados.

Padre Fred, Gideon Falls vol 1 e Twin Peaks

Mas é em padre Fred que encontramos o verdadeiro motor da história deste primeiro volume. É através de seus olhos e ouvidos que começamos a descortinar o passado de Gideon Falls e seu sanguinolento caminho, algo que ele não faz sozinho. 

Tendo a ajuda da xerife Miller e do Dr. Sutton, a estrutura da trama do sacerdote se assemelha a do agente do FBI Dale Cooper de Twin Peaks, a icônica série do diretor David Lynch. Recém-chegado à cidade ele se vê em uma investigação policial, tem estranhos e perigosos encontros, fica sabendo de uma sociedade secreta criada para combater um antigo mal e por fim se vê diante de algo muito maior. 

E essa referência à série do diretor norte-americano não é gratuita, já que o próprio Lemire confirma a sua influência em, não somente Gideon Falls vol 1: O celeiro negro, mas também como na própria concepção do mito do celeiro negro. Como está demonstrado nesta entrevista dada pelo roteirista ao site Entertainment Weekly.

Arte de: Andrea Sorrentino

No entanto, a jornada do eclesiástico também guarda outras surpresas em suas páginas, pois se para Norton o desenhista Andrea Sorrentino perverte o mundo ao seu redor com enquadramentos não usuais, o layout nas sequências do padre Fred também possuem características próprias.

Longos e silenciosos painéis, juntos com sequências mais lentas dão a cidade a sensação de uma tranquilidade inquieta. Já a câmera coloca os leitores em ângulos mais humanos. Similarmente, as cores também vão em direção a uma paleta mais vibrante e que pouco a pouco vai se desvanecendo, conforme a loucura e o terror vão tomando conta da cidade.

Conclusão 

Gideon Falls vol 1: O celeiro negro é o inicio de uma promissora série de terror e as bases criadas por Jeff Lemire, Andrea Sorrentino e Dave Stewart mostram que o celeiro negro, Norton e o padre Fred irão nos levar para inquietantes e apavorantes paragens. Terminando com um gancho poderoso e com uma leitura que te deixa na ponta da cadeira, a HQ é certamente uma leitura que irá agradar fãs da nona arte e do terror. 

Nota: 4

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