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Críticas de segunda e Opiniões de quinta sobre Quadrinhos

Por Thiago de Oliveira

O Batman - Cavaleiro Branco de Sean Murphy

Batman – Cavaleiro Branco de Sean Murphy

Batman - Cavaleiro Branco de Sean Murphy é uma daquelas minisséries que mexem com o statos quo do personagem. Conheça aqui os motivos para isso.

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Conheça o Cavaleiro Branco

O Batman – Cavaleiro Branco de Sean Murphy e Matt Hollingsworth é definitivamente um ponto fora da curva na trajetória de boas histórias do nosso querido Morcegão. E se você ainda não deu uma chance para a minissérie, hoje vou listar cinco motivos pelos quais ela deveria estar na boca do populacho e na sua pilha de leituras.

Publicada nos EUA entre 2017 e 2018, a HQ chegou ao Brasil pela Editora Panini ainda em 2018 e foi finalizada por aqui em março de 2019. Com oito edições, Batman – Cavaleiro Branco foi responsável por inaugurar o selo Black Label da DC – sucessor do finado e querido selo Vertigo – e se você ainda não sabe sobre o que se trata a trama criada por Sean Murphy, aqui vai uma breve sinopse:

“Em um universo no qual o Batman foi longe demais, somente o Coringa poderá salvar Gotham City.
Curado de suas tendências homicidas e de sua loucura, o antigo criminoso conhecido como Coringa, volta a sociedade como Jack Napier e assume o papel do Cavaleiro Branco e promete aos seus concidadãos uma cidade mais justa e benéfica para todos, longe das garras de seu maior vilão: o Batman! Mas quem é o herói e quem é o vilão nessa briga?”

Fugindo do óbvio, a trama se revela como um intenso thriller político no qual não só o Batman e o Coringa se veem em uma nova dinâmica, mas como também a própria cidade de Gotham e o universo do Cavaleiro Encapuzado tem o seu status quo remexido.

E antes de adentrarmos nas belezuras da minissérie, deixem-me apresentar a mente criadora deste novo recanto do homem-morcego.

Sean Murphy

Sean Murphy

Nascido na cidade Nashua, New Hampshire em 1980, o quadrinista norte-americano já é uma figurinha bastante conhecida e experimentada do mercado de quadrinhos, tendo iniciado sua carreira lá em 2005 na editora Dark Horse ilustrando histórias curtas na série em quadrinhos de Star Wars e também participando da série Noble Causes, da Image Comics.

Carreira

Já em 2005, ele migra para a DC Comics e desenha a minissérie Batman/Scarecrow: Year One, publicada no Brasil pela Panini em Batman Extra n° 14 em 2008. Ainda no ano de 2005, Murphy publica sua primeira história autoral – Off road (inédita em nosso país) pela editora Oni Press e com a qual foi o vencedor do Prêmio da American Library Association de “Melhor Obra para Jovens Adultos”.

No biênio 2006-2007, trabalha em Shaun of the dead da IDW Publishing e publica Outer Orbit pela Dark Horse. Entretanto, é na DC Comics que o autor vai firmar pé, publicando, a partir de 2008, uma série de obras pelo selo Vertigo. Dentre elas destaco:

  • Joe: o bárbaro – com roteiro de Grant Morrison, publicada em 2010 nos EUA e que ganhou uma edição de luxo pela Panini aqui no Brasil em 2017;
  • Punk Rock Jesus – publicada em 2012 e trazida pela Panini para cá em 2018;
  • O Despertar – com roteiro de Scott Snyder, em 2013. Obra com a qual ganhou o Eisner de 2014 como melhor desenhista, e que desembarcou por aqui em duas edições pela Panini em 2015.

E em 2015, pela Image Comics publica as HQs: Crononautas, com roteiro de Mark Millar, e Tokyo Ghost, com roteiro Rick Remender e cores de Matthew ‘Matt’ Hollingsworth. Ambas publicadas no Brasil, respectivamente, pela Panini e pela Darkside Books.

Uma das coisas mais fenomenais na carreira do quadrinista é sem sombra de dúvidas o seu traço. Dono de poderosas linhas, Murphy tem um estilo único, facilmente reconhecido graças as hachuras dominam as páginas de suas HQs, o que torna o seu estilo bastante único.

Um outro detalhe bem interessante em sua carreira é que ele já fez praticamente de tudo dentro do mercado de quadrinhos. Já foi roteirista, desenhista, capista, colorista, arte-finalista, letrista e agora em 2020 se tornou dono de todo um universo para chamar de seu graças ao seu trabalho com o Batman. O que nos leva aos 5 motivos para ler Batman – Cavaleiro Branco de Sean Murphy, onde também iremos explicar esse novo cantinho no multiverso DC que vem surgindo.

Prontos? Então vamos lá.

05 motivos para ler Batman – Cavaleiro Branco

1 – Easter eggs, muitos easter eggs
Ler Batman – Cavaleiro Branco é como pegar um daqueles ônibus turísticos e visitar uma série de lugares conhecidos e de quebra ainda conhecer alguns um tanto quanto mais obscuros. E não precisa ser um expert na mitologia do sisudo morcegão para reconhecer alguns dos elementos ali dispostos.

Batman Cavaleiro Branco 1
Arte de: Sean Murphy | Consegue encontrar todas as referências nessa cena?

Agora para os caçadores de easter eggs, a minissérie é um verdadeiro deleite. A cada virada de página, são objetos, falas e diversos outros tipos de itens que funcionam ora como inofensivas memorabilia ora como peças narrativas, que aprofundam a trama e os personagens.

Sem dizer que a própria ambientação da minissérie, assim como a cidade de Gotham, é um imenso mural constituído por peças do filme do Tim Burton de 1989, a série animada de Paul Dini e Bruce Timm, a trilogia do Christopher Nolan e mais uma infinidade de componentes advindos das HQs e de outros produtos do personagem. Tanto, que me arrisco a dizer que a minissérie é uma das mais bem boladas homenagens ao universo do Cavaleiro das Trevas.

2 – Batmóveis

Dentre toda a iconografia do morcego, o batmóvel ocupa um lugar de destaque e consequentemente todas ou quase todas as equipes criativas que trabalham com o personagem trataram de redesenhá-lo. O que sempre acaba gerando uma grande expectativa entre os fãs.

Provavelmente o motivo para isso seja de que através dele, diferentes autores puderam passar suas visões acerca do personagem. Em um passe de mágica, temos um vislumbre do que esperar da postura do personagem através do próprio batmóvel. E Murphy resgata alguns dos mais icônicos modelos, tais como:

  • um bat-jipe;
  • o batmóvel de 1948;
  • batmóvel da série de 66;
  • a versão do batmóvel do filme Batman de Tim Burton;
  • o batmóvel da trilogia de Christopher Nolan;
  • batmóvel da animação Batman: a série animada;
  • E uma nova versão do batmóvel feita pelo quadrinista para a série.

 

Batmoveis Sean Murphy
Arte de: Sean Murphy

E todos esses automóveis irão ser parte importante no decorrer da história, com direito a uma sequência de perseguição entre os carros. Além disso, a presença dos carros ajuda a criar uma linha histórica própria dentro desta nova Terra.

3 – Arlequina

Arlequina Sean Murphy
Arte de: Sean Murphy

Apesar da HQ focar na relação Coringa/Jack Napier – Batman, é a Drª Harleen Quinzel quem rouba a cena. Murphy faz um trabalho esplendoroso com a personagem reescrevendo o seu relacionamento com o Coringa e demonstrando todas as suas facetas – boas (?) e más.

Contudo, engana-se quem acha que a personagem é tratada como uma coadjuvante servindo apenas como par romântico. Em Batman – Cavaleiro Branco ela é uma terceira força capaz de desequilibrar a balança da guerra entre o curado e ex-palhaço do Crime e o Cruzado Encapuzado. E o que não falta, são momentos onde sua inteligência e perspicácia são destacadas.

Aliás, a minissérie ainda reserva uma surpresa para lá de impactante aos leitores abrindo espaço para uma nova e fascinante vilã. O que posso dizer, sem spoilers, é que o autor cria um modo de respeitar todo o desenvolvimento da personagem ao longo dos anos e ao mesmo tempo criar algo único.

4 – Bat-família

A Bat-família sempre teve várias nuances e nos últimos anos ela ganhou ainda mais camadas com a adição de novos personagens ao longo dos anos. Mas Murphy aqui trabalha com a máxima de “menos é mais” e elenca Dick, Bárbara, Alfred e Jason para representar o grupo.

As interações entre eles e o Batman são poderosas e demonstram muito bem como se dão as suas relações. A tensão existente entre Bruce e Dick, no qual o segundo busca reconhecimento e individualidade, a relação de confiança e questionamento entre Barbara e Bruce, a tristeza pelo destino de Jason e por último Alfred… E digo uma coisa, vocês não vão estar preparados para algumas cenas.

Entretanto, o que mais impressiona durante Batman – Cavaleiro Branco é o domínio e a capacidade de síntese do quadrinista norte-americano, que consegue com poucas palavras e situações expor anos de idas e vindas entre os personagens.

5 – Gotham – uma cidade real
Deixando o melhor para o final, em entrevista, Sean Murphy declarou que a sua intenção era a de pensar Gotham como uma cidade com problemas reais e esquadrinhar as suas relações políticas e econômicas.

Fazendo com o que o Batman confronte uma série de questões sociais oriundas diretamente de suas ações, o quadrinista norte-americano traz um tom político a minissérie que eleva o embate do Homem-Morcego com Jack Napier-Coringa que aborda responsabilidade social, racismo, desigualdade econômica e o tipo de sociedade em que queremos viver.

Funcionando como um personagem à parte a cidade se mostra viva como nunca e podemos ver como as elites de Gotham fomentam e lucram com a guerra ao crime do Batman, assim como a própria cidade se vê presa em seus próprios pecados.

Bônus: O design dos personagens
Há uma infinidade de personagens na minissérie e todos foram reimaginados por Murphy. Desde os detetives Bullock, Montoya, passando pelo o comissário Gordon e por Duke Thomas, até os principais vilões ganharam uma nova roupagem mais urbana e que fica num meio termo entre o realismo de Nolan e a estilização de Bruce Timm. O resultado é um desbunde que enche os olhos do leitor durante o desenrolar das HQs.

Batman Cavaleiro Branco vilões | De Segunda
Arte de: Sean Murphy

Dentre os vilões quero chamar atenção para o Bane, Hera Venenosa, Chapeleiro Louco, Espantalho, Duas-caras e o Senhor Frio – que tem um papel especial na minissérie Batman – Cavaleiro Branco e nesse novo universo criado pelo Sean Murphy. Não à toa o personagem ganhou um spin-off para chamar de seu.

Senhor Frio – Von Freeze

Na minissérie Batman – Cavaleiro Branco, ficamos sabendo que Bruce está trabalhando com o Senhor Frio a fim de encontrar um tratamento eficaz para Alfred utilizando a tecnologia de congelamento de Freeze. Durante a história ficamos sabendo de detalhes do passado do cientista e que há uma ligação entre sua família e Thomas Wayne e é esta conexão, junto com o passado de Fries na Alemanha Nazista, que o spin-off Von Freeze irá explorar.

Von Freeze | De Segunda
Arte de: Sean Murphy

Na noite do nascimento traumático de Bruce Wayne, Victor Fries deve intervir para salvar as vidas de Martha Wayne e do futuro Batman. À medida que a noite se desenrola, Victor distrai Thomas com a incrível história de suas próprias figuras paternas – uma nazista e outra judia – e sua complexa conexão com os Laboratórios Wayne. Enquanto o Terceiro Reich chega ao poder, a profunda amizade e relação de trabalho entre o Barão von Fries e seu parceiro de pesquisa, Jacob Smithstein, está em crise.  Quando a S.S. reforça a vigilância sobre o projeto, o jovem Victor começa a questionar a verdadeira lealdade de seu pai. Ambas as famílias são levadas a uma escolha impossível e a um sinistro impasse, e Victor faz um pacto com Smithstein que se agitará por gerações.

Chegada ao Brasil

A obra foi publicada em novembro de 2019 e chegou ao Brasil em 2020 com uma pequena confusão. A Panini decidiu publicar a HQ no quinto número da minissérie Batman – A Maldição do Cavaleiro Branco sem muitos alardes e informações. E mesmo usando a capa original da edição norte-americana e contando com um posfácio de Murphy não há muitas referências que situem quem lê a HQ.

Com roteiro de Murphy, arte de Klaus Janson (Demolidor, Cavaleiro das Trevas) e cores de Matt Hollingsworth, Von Freeze pode ser lida de forma independente das duas minisséries, mas cronologicamente ela se encontra entre o sexto e o sétimo volume de Batman – A Maldição do Cavaleiro, o que só faz aumentar ainda mais a confusão da Panini. 

Murphyverse

Batman – Cavaleiro branco já teve uma continuação. Batman – A maldição do Cavaleiro Branco, publicada lá fora entre 2019 e 2020 e aqui pela Panini em 2020.  E enquanto termina o terceiro volume da minissérie (ainda sem título), Murphy publicou no twitter que a DC encomendou a criação de seu próprio universo.

A ideia da editora é lançar esporadicamente minisséries derivadas, que irão expandir o Murphyverse, durante o intervalo entre o volume dois e o volume três da série Cavaleiro Branco.

Estas histórias serão supervisionadas por ele e contaram com outras equipes criativas que irão roteirizar e desenhar estas novas minisséries. Nesta primeira leva os personagens contemplados para ganhar as suas próprias histórias foram: Asa Noturna, Batgirl e Harley Quinn.

As regras do Murphyverse

Em uma série de tweetsMurphy também definiu algumas regras para este infante universo que são:

  1. Se alguém morre, ela permanece morta;
  2. Todo quadrinho sai no prazo;
  3. Sem balões de narração, a menos que seja uma voz em um flashback;
  4. Sem muitas capas variantes. No máximo duas: a capa principal e uma variante para o colecionador super apaixonado;
  5. Haverá pelo menos um veículo impressionante em cada quadrinho;
  6. Sem nenhum quadrinho derivado ou ligação com outra série ou evento. Cavaleiro Branco será um quadrinho fácil de ler, seja você um leitor recorrente ou não.

Com essas regras podemos ver que o autor norte-americano possui um plano muito bem delineado para o seu universo. Fato que podemos comprovar nessa extensa entrevista sobre Batman – Cavaleiro Branco.

E como podemos ver, a DC Comics vem apostando fortemente neste elseworld e você também deveria estar prestando atenção a esta nova terra que vem surgindo no Multiverso da editora.

Ficou curioso para saber mais? Já resenhamos todas as oito edições de Batman – Cavaleiro Branco aqui no blog, então se você não leu clique aqui para ler.

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